sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Eu sou igual a você

Mulher,

Eu sou igual a você. 

Tenho estrias, flacidêz, tendinite, talvez artrite e alguma outra ite à espreita - escondida. Eu sou uma mulher comum. Sem o corpo da moda. Sem o cabelo da moda. Mulher de olhos castanhos, olheiras e pele um tanto amarelada devido aos dias trancada dentro de quatro paredes, na labuta diária pelo pãozinho no final do dia. Gosto de tomar cerveja nas sextas-feiras, finjo não ter ciúmes, adoro uma baladinha vez por outra e, às vezes, também surto. 
Quero jogar tudo pra cima! Pintar o cabelo, fazer as unhas, tornar-me uma bond-girl em suas mil e uma facetas. Se você tem filhos, é provável que sejamos ainda mais parecidas. Por certo, assim como eu, você também perde a paciência umas trinta vezes por dia. Depois, arrepende-se. E, aflita, retorna para encher de beijos aqueles serzinho dono de todo o seu amor. Olha pra sala, revoltada, desesperada, tentando enxergar naquele cômodo, desarrumado, feio, fedorento, um pequeno rastro do que foi no passado. Olha para os CDs amontoados sobre a estante, aos quais nunca mais ouviu; sonha em assistir aos filmes empoeirados dentro das caixinhas; viaja na ideia de uma tarde sozinha, sem ouvir os diálogos da pepa ou as (irritantes) canções da galinha pintadinha. (calma!)
Eu também sou insegura quanto ao futuro, ao presente, ao dia a dia. Penso nas escolhas que fiz; De algumas me arrependo, de outras eu nunca me arrependeria. Como poderia, enfim?! 
Eu sei que hoje em dia é difícil ser mulher. Vivemos no limiar de uma nova era, com um dos pés ainda fincados num passado onde os afazeres domésticos pertenciam somente a nós e a cabeça em um presente-futuro no qual somos as chefes de família. Sei que é difícil enfrentar a cobrança deste mundo louco que nos exige a produção de uma prole sadia, a força para o labor diário, o corpo perfeito das atrizes do cinema e, ainda por cima, bom humor no fim do dia. 
E, como mulher, eu afirmo: nós conseguimos! Fazemos tantas proezas ao longo da existência que é de uma injustiça atroz comparar a mulher maravilha a qualquer uma de nós. Longe do pedantismo de lançar mão de exemplo tão batido, façam-me o favor: respeitem a nós, mulheres do dia a dia. Somos mais fortes do que qualquer heroína. Somos mulheres, mães, cortesãs, artesãs - somos força e poesia. Não seria justo nos reduzir à tal caricatura tão primitiva.
(Mariana Lira)

2 comentários:

  1. Perfeito! Esse é o nosso dia-a-dia, somos mulheres, imperfeitas e ao mesmo tempo perfeitas no decorrer da vida... Estamos juntas.

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