Passei anos sonhando ganhar o que ganho atualmente. Acreditava - eu juro! - que neste ponto poderia viver a vida planejada com a qual sempre sonhei. Foram tantos planos para esse contra cheque que eu nem consigo listá-los todos aqui. Eu sonhei e nos sonhos eu era feliz.
E aí você deve estar se perguntando: o que é felicidade pra mim? Ora, eu respondo, o que é pra todo mundo: ter dinheiro o suficiente para pagar as contas, ter uma casa legal, dar umas escapulidas durante o mês, viajar de vez em quando e só se ocupar de problemas outros - nunca com dinheiro. Hoje eu ganho o que sempre acreditei que seria suficiente e, pasmem (mas acho que vocês já sabem), o salário não cabe dentro do meu mês.
Ahhhhhhhhhhhhhhhh, vocês devem pensar, tá estourando os limites. Deve estar indo a restaurante todas as semanas, no mínimo uma viagem por mês, roupa nova da mesma forma e outras trivialidades. Mas meu dinheiro fica em 4 coisas apenas: escola do menino, plano de saúde, carro + seguro e combustível. Todo o resto - quando a gente consegue desenrolar, é mágica para pagar cartão de crédito, academia e acreditar (mesmo sabendo que é mentira) que no próximo mês vai ser diferente. Mas não vai. Nunca é.
É sempre uma corrida desesperada para fechar o mês e não ficar devendo para ninguém. E os planos, aqueles com os quais a gente sonha vividamente e sabe que seria feliz, vão ficando mais empoeirados, esquecidos na prateleira de tudo aquilo que a gente não categoriza como prioridade. Hoje eu ganho o que sempre sonhei e só consigo sobreviver.
Voltei a ter crises de pânico. O coração dispara, palpita em desabalada sinfonia; o ar torna-se rarefeito e quase não chega aos pulmões. E meus olhos - ahhhhh meus olhos - meus olhos são só cansaço. Cansaço por essa maratona que nunca tem um vencedor. Por essa disputa para conseguir chegar na frente da próxima conta. Por essa falta de horizonte na próxima esquina.
Talvez no próximo mês seja melhor. Mas eu não estou muito certa disso.