quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Quem você anda guardando no seu armário?

Gente é que nem roupa. Umas combinam com a gente, outras não.

Por mais que sejam lindas na vitrine, não caem bem. Ficam tortas; curtas demais; folgadas ou apertadas em demasia. Não rola. Há, ainda, aquelas que estão na moda, super visadas, mas que rapidamente perdem a graça, figurinhas desbotadas e têm, como fim certo, a reciclagem. 

Há, também, aquelas inatingíveis, sonhos de consumo - as de marca (gente tem marca?!). Cobiçadas por todos, prometem muito e oferecem, em verdade, quase nada. Quando se paga o preço que valem, acabam trazendo consigo uma decepção atroz por não serem lá bem aquilo que apregoavam. E há, por fim, aquelas já gastas, velhas, batidinhas, mas pelas quais a gente nutre um carinho gigantesco. São, em regra, marcos que nos fazem lembrar de quem somos e do tamanho da nossa capacidade alheia de ser feliz. 

O meu "armário" de gentes é bem variado. Confesso que gosto das que são badaladas - tão divertidas, quase sempre com a adrenalina elevada -; me fazem sentir também cobiçada nas horas em que a auto estima não está lá nos seus melhores dias. Têm, por fim, utilidade limitada. As da moda são sazonais. Presentes nas baladinhas, elas servem pra inserir a gente num grupo, quando meio deslocados. Há os que são hippies, os nerds e os descolados; os sambistas, os ciclistas e os letrados; há os artesãos, os mambembes e os quadrados. Há, enfim, gente pra tudo que é gosto nesse meu armário ilustrado. 

Entretanto, confesso, com alegria, que meu "guarda-gentes" está repleto das batidinhas. Aquelas caras que me são conhecidas, testemunhas da minha vida, são meus "parsas". Um povo sem papas na lingua que me chama na chincha e me diz umas verdades vez por outra. Gente que é gente de verdade. São os números repetidos na minha conta telefônica, aqueles os quais me chamam, sem cerimônias, no whatsapp. 

Comigo, compõem músicas, discutem textos, viram poesia e me transmitem a verdadeira alegria de nunca, jamais, ser ilha. As minhas "gentes" já batidinhas, embora já tão visitadas, não são as mais cobiçadas, nem tampouco as que estão na moda. Não desfilam nas calçadas da fama, nem andam de carro importado, mas estão sempre ao meu lado quando um ombro é preciso. São as que também contam comigo quando o caldo entorna, quando o coração está solitário; são as que me querem ao seu lado, independente de quem eu seja. Essas gentes, que são só minhas, moram do lado esquerdo do meu peito, onde estão o amor, a verdade e o afago. No meu armário elas sempre terão um pouso; um sorriso; e todos os meus abraços. 

Quem você anda guardando no seu armário?




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