quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Espero que em 2019 eu possa bater um monte também.




O moço das frutas cortadinhas ainda na estava na esquina. Os flanelinhas dançavam frenéticos, tentando organizar o trânsito caótico do primeiro dia útil do novo ano. Mas já era dia 2. Já haviam se passado dois dias de um 2019 adiado, nada ansiado. O sol continuava a brilhar, um calor dos infernos já às 8h da manhã. Mas nada naquela manhã me arrombava a retina. Não havia a beleza costumeira daquelas cenas matutinas e tão banais.

Na cabeça, os pensamentos cutucavam-me, malévolos, quase me levando à loucura. Recomeçava em mim a rotineira faxina nas prateleiras das minhas prioridades. Mais uma vez me vi arquivando sonhos, guardando expectativas e promessas feitas ao meu filho no andar mais alto da minha estante de planos. (Re)começar de novo, mais uma vez. Só pra variar. Acontece – tome nota, Deus. Essa é pra você -, que eu gostaria de continuar sonhando, pelo menos por um período maior de tempo.

No whatsapp, as mensagens pululavam tresloucadas, tentando fazer piada com a grande piada na qual nos tornamos. Eu respondia a todas com gargalhadas e carinhas divertidas que somente existiram no digitar dos meus dedos. No rosto, apenas a expressão cansada de quem não agüenta mais. Ouço frases motivacionais que tentam me levar a acreditar que a vida é mesmo esse sobe e desce; esse escalar constante de montanhas quase intransponíveis. Eu devo estar escalando o Everest.

Não sou uma pessoa fácil, quem me conhece sabe. E, com a idade, tenho me tornado mais difícil ainda. Tem sido difícil engolir certos comportamentos, determinadas pessoas e essa vida que não se reinventa. Hoje eu só não quero mais ser capacho do tempo, da vida e nem de ninguém. 2018 foi ano de porradas. Levei muito soco no estômago, tapa na cara, murro no olho. Resultado: sorriso esburacado, corpo sofrido e alma calejada. Espero que em 2019 eu possa bater um monte também.

Enquanto aqui dentro tudo é turbilhão e escuridão, lá fora o mundo parece continuar (quase) do mesmo jeito. E eu temo que tenhamos apertado o botão para rebobinar a fita e regredir anos e anos na história. Minhas costas doem. Se é a idade ou o peso da vida, tanto faz. Eu apenas estou certa de que não agüento mais.