quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

À Francesa

Francesa,

Eu queria confortá-la com palavras brandas e conselhos sábios de quem conhece a razão das coisas. Gostaria de aquietar seu coração, afirmando categoricamente que, pela manhã, o mundo estará diferente e nós estaremos bem. Eu adoraria ver em seu rosto um sorriso de domingo, ao passo que brota em seu coração a certeza de tempos melhores. Mas a verdade, mulher, é que eu não posso.

Eu sou igual a você, já te disse. Inseguranças, medos, fracassos, anseios, palpitações, elucubrações - as minhas, as suas, as nossas, são as mesmas, são irmãs. Vivemos com o coração à boca, esperando pelo momento indizível no qual veremos concretizadas todas as expectativas. E olhe que não são poucas. Na guela, um grito mudo que insiste em nos engasgar; no peito um aperto, um sem jeito, uma eterna tentativa de se enquadrar num mundo que parece nos cuspir porta à fora.

Mas, deixa eu te falar. Aliás, deixa eu repetir. Eu gostaria de te mostrar essa mulher que eu vejo bailando na minha frente. Sorriso feliz, infante. Lábios vermelhos, suntuosos. Alma grande, brilhante, escandalosa. E uma certeza das coisas que me apavora. Eu gostaria de transformar o que eu vejo no teu espelho, para que este reflexo, que é teu, tão belo, deixasse de ser esse oposto pelo qual você tanto busca.

Eu sei, eu sei. Ao ler isso, você com certeza se questionará: mas que imagem é essa, distorcida? Deve ser coisa de amiga, louca para confortar, dizer palavras bonitas. Mas, Francesa, eu me espanto por este ser fantástico, o qual eu nutro e amo, ser o seu inverso. Esse outro lado obscuro que você insiste em não enxergar. Pois para mim ela brilha, encandeia. Brilha e deixa brilhar.

O que eu posso te dizer, pequena, é que ninguém é totalmente feliz, assim, em demasia, Os que os dizem, acredite, também sofrem. Cada ser tem a medida de sofrimento que lhe convém ou lhe foi entregue. E suporta - uns aos gritos, outros em silêncio e estes, sei lá como, com um sorriso bem grande na cara. Admito: eu também acho estranho pacas. Mas eu digo que já vi a tristeza estampada nos olhos de gente que só sabe sorrir.

O que eu quero é que você se solte, se esbalde. Esbanje essa coisa só tua de ser elegante, chiquérrima, glamorosa em demasia. Me ensine a fazer essa poesia que te exala pelos poros. Deixa eu aprender a me mover assim, felina. E acredite, minha menina, que o mundo nunca para. O rio sempre encontrará o mar, O sol sempre há de raiar. A noite nunca vai deixar de escurecer. E a lua sempre morrerá para depois renascer, fantástica. Quanto a nós: sobreviveremos. Aos trancos, aos barrancos. Até que um dia encontraremos esse nosso lugar ao sol outrora prometido.

(Mariana Lira)

Um comentário: