quinta-feira, 8 de junho de 2017

A urgência do tempo não me permite parar agora



Eu queria ficar muda. Tirar uma folga desse turbilhão que mora em mim. Mas escritores padecem com os personagens que adornam de cor, de dor e de confusão suas vidas obscuras e eremitas. A ideia era ficar out. Tem muita coisa acontecendo. Muitas verdades se repetindo. Muito passado me engolindo pelo pé. Esse passado, que de fato nunca passou, hoje me assola com sua presença combustível e gigantesca. Tirou-me do prumo, tirou-me do eixo.

Entenda. Não é que o presente não me apeteça. A questão é que a gente vai fazendo escolhas durante a vida e, quando se apercebe, criou um monstro o qual nos devora todas as manhãs, quando olhamos no espelho. A crueza dessa verdade é que, se pudéssemos, voltaríamos no tempo – cada um de nós -, e daríamos uns bons cascudos naqueles jovens que fizeram tanta merda em seus anos de ouro. Era tão fácil escolher o certo!! Mas a gente tem medo, não tem grana e nem peito pra enfrentar as consequências. Somos inconsequentes. Abestalhados mesmo.

Agora estou eu, de frente para um espelho que somente reflete a menina de 20 anos atrás. É perturbador, sabe?! É como se, de repente, eu pudesse dizer a ela o que e como fazer, por onde ir e aonde chegar. É uma liberdade tão grande que chega a amedrontar isso de poder refazer caminhos e tomar novos rumos. A verdade é que eu quero me livrar dessa culpa que me pesa os ombros há tantos anos.

Decidi, então, que não vou mais ficar calada. Sou boquirrota mesmo, pra quê mentir não é mesmo?! Não quero mais fugir, escapar, desviar o olhar e nem desabar frente as novas realidades as quais surgirão depois tanto furor. É preciso ser fortaleza, onda que bate na pedra, e de tanto bater, fura. Não vale a pena falsear esse tudo que existe dentro de mim. Não depois de tantos percalços.

O engraçado é que, de uma hora para outra, virei uma leoa. Creio que seja medo de perder um tempo maior ainda. Medo de encarar uma vida sem porquês, sem efeito, mas cheia de defeitos. Ando querendo sentir tudo na pele, na carne. Ando à flor da pele, como me lembra sempre o Zeca. Não quero digerir mais nada; a ideia é vomitar esse escárnio que me envenena a alma, envelhece as faces e bloqueia meus passos – os quais agora só querem correr.


Então, me desculpem se eu for grossa ou de repente parecer uma louca. A urgência do tempo não me permite parar agora. Agora eu só vou embora quando tudo terminar, quando esgotar-se completamente essa fonte de não sei o quê dentro de mim. Tal e qual um câncer, é preciso expurga-lo, purificar-me a alma e a existência. E dançar nesse ritmo até a música, enfim, acabar. Afinal, eu agora sei, nada nunca impede a vida de acontecer. 



2 comentários:

  1. Play apertado com muita convicção de que encontraria algo muito profundo e intenso. Encontrei. Admiro tua força. Beijos

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