quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Quando eu conheci o Paulo

Quando eu conheci o Paulo, ele já não era o Paulo. Era o Bobô. Uma mistura malemolente de "bebê com meu amor", apelido dado pela família que o adotara quando aos 3 meses de idade. Bobô era, enfim, um menino serelepe, de jeito moleque, sorriso feliz e com um coração tão gigante quanto sua própria essência. Sua família se referia a ele como um anjo mandado para reformar-lhes a vida, restabelecer as relações e fortalecer os laços. Era, enfim, o xodó da casa.

Ainda bebê, estreou na vida com uma história de violência. Sofreu coisas que ninguém deveria sofrer, muito menos uma criançça, mas foi abençoado com o maior amor do mundo. Foi amado, acarinhado, mimado e muito cuidado. Cercado por tanto amor, ele não poderia crescer de outro jeito: tornou-se um adolescente boa praça, gentil, amistoso, que estava sempre sorrindo, agarrado aos irmãos e ao pai.

Guerreiro desde bebê, ele havia sido salvo de um destino trágico por um outro anjo, que o acolheu como mãe, parindo-o em seu coração, como ela mesma gostava de dizer. Dizia, também, que sua vida ganhara sentido com a chegada de Bobô e que era por conta dele que ela ainda resistia a um sem número de doenças que a tentavam derrubar. E foram anos e anos resistindo. Sempre com o argumento de que era por ele e para ele. Em 2011, quando seu quadro agravou-se e ela não resistiu, nós vimos um pouco da alegria de Paulo ir-se também.

Do aparteamento materno, restaram o pai e os irmãos, sempre amantíssimos. No lugar da mãe, ficou sua irmã, que praticamente o adotara como a um filho. A relação dos dois ela linda. Forte e linda. Cheia de uma intimidade que só existe entre uma mãe e um filho que se amam profundamente. Ela tomou-lhe em seus braços e o fez seu menino, vendo-o crescer e desenvolver nos milhares de planos maravilhosos que sempre nutrira para ele.

Mas a vida, apesar do chavão, é mesmo uma chama. Lépida, lucubre e frágil, a qual pode apagar-se a qualquer momento. E assim, tão de repente quanto chegou à família, Paulo - o Bobô -, foi retirado de cena para ver outras paisagens. No auge dos seus 16 anos e com um futuro inteiro pela frente, ele, que era tão saudável, foi acometido por um aneurisma e não resistiu à força da traiçoeira doença. Foram muitos os esforços para mantê-lo, mas o plano de Deus era outro. Era, por certo, muito maior.

Teoria há muitas. A que eu mais acredito, no entanto, é que Bobô veio com uma missão muito bem delimitada e a cumpriu com maestria. Uniu uma família em amor, deu sobrevida a um espírito de luz para que pudesse ajudar milhares de tantos outros desgastados e sofridos e ensinou amor. Simplesmente amor. Paulo era um anjo.

Bobô era meu cunhado. Dona Silvana era minha sogra. E eu tenho plena convicção de que eles eram almas afins, com missões entrelaçadas. Agora, em outro plano, por certo mais evoluído, eles nos ajudarão a entender os profundos mistérios da vida e os porquês da nossa existência. Ao meu marido, aos meus cunhados e, principalmente, ao meu sogro e seu pai, eu digo: contem comigo.

Mariana Lira


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