sexta-feira, 5 de junho de 2015

Eu gosto de ser mulher ou o monstro da perna cabeluda.



Eu sou pelo direito. Sempre o fui. Gosto de ponderar acerca das esferas que envolvem direitos e deveres e, ainda mais, de respeitar o espaço do outro. Por fim, sou contra todo e qualquer radicalismo. Aliás, essa é frase feita para mim. Radicalismo, todo ele, é burro e escraviza. Insere o sujeito numa redoma de certezas irrefutáveis mas que, em verdade, são falíveis e desumanas. E vazias de humanidade o são por desrespeitarem a capacidade fantástica do ser humano em ser múltiplo - um monte de consciências erigidas nas experiências acumuladas em anos de existência, resistência e luta. 

Aprofundando-me nos diversos ramos do direito, enfatizei em mim, muito mais, essas certezas e pude constatar que - é verdade -, o direito de um indivíduo, para existir, precisa embasar-se no cumprimento dos deveres por todos os outros. Essa é, por fim, a tônica do equilíbrio e da harmonia, sem as quais as sociedades voltariam aos tempos da barbárie. A nossa sociedade, entretanto, padece de um desequilíbrio demasiado e triste, no qual as pessoas - homens e mulheres -, anularam-se em lutas as quais perderam a sua essência primeira - a de trazer a paz. 

Tudo isso aplica-se muito bem ao feminismo e ao machismo, por exemplo. Dois modelos falidos e autofágicos, que estão ajudando a criar seres humanos ainda mais doentes e desarrazoados. Mulheres, ao que me parece, perderam, enfim, o feminismo que as caracterizava. Contraditório?! Creio que não. Todas as lutas do movimento feminista foram criadas no intuito de elevar a mulher, este ser fantástico, repleto de vida, à condição de igualdade com os homens. E foram válidas, por certo. Lutamos pelo direito de trabalhar, de votar, de ser livre. Lutamos pelo direito de dar pra quem quiser, de usar nosso dinheiro como bem entendermos. Entretanto, lutando por esse igualdade inalcançável, passamos do ponto. E, de novo, me vem o questionamento: até onde vai o nosso direito?

Conquistamos o direito de dar pra quem quiser, e isto é ótimo. Libertador, gostoso e prático. Entretanto, e eis aqui novamente a máxima do direito, todo e qualquer bônus tem também o seu ônus, sua obrigação. Acerca dessa polêmica questão do aborto: seria justo, com quem foi criado sem razoabilidade, justamente por isso pagar com a própria vida?! Somos, assim, donas do corpo e da vida de outrem? Outra questão: para sermos iguais aos homens temos mesmo que ter cabelos no sovaco, pernas cabeludas e cabelos desgrenhados? Serei eu menos mulher se gostar de delineador, lingerie e salto alto? Todo esse radicalismo me leva a crer que estamos nos transformando em qualquer outra coisa, menos em mulheres. 

Em minhas conversas com outras comadres, eu enxergo mulheres aturdidas com a total incapacidade de acompanhar seus próprios filhos. São as mesmas que se torturam por não terem mais tempo de cuidar da casa, do corpo e da própria vida. Tornam-mo-nos escravas de todo esse radicalismo. Como dizem por aqui: tudo hoje é "na pressão". 

Como já disse, sou pela ponderação. Curto trabalhar e ter minha grana com a mesma intensidade que amo cuidar do meu filho, assim como do meu marido. Adoro salto alto, academia, maquiagem, pernas e virilhas bem limpinhas e, ainda, cabelão. Idolatro as mulheres que nos trouxeram aqui - as lutadoras do 8 de março e a dona de casa que, outrora, cuidava com amor e carinho de muitos e muitos filhos e agregados. Acho que radicalizar é ter coragem de misturar em uma só existência a loba e a mulherzinha; a trabalhadora e a dona de casa; a santa e a diabinha. Nessa dicotomia creio que encontrei minha resistência, minha resiliência e minha derradeira estrada. E não me arrependo em nada de ser assim, contraditória: para alguns refém da sociedade, para mim MULHER poderosa e altruísta. 

Eu gosto de ser mulher. E daí?

2 comentários:

  1. Tornam-mo-nos escravas de todo esse radicalismo. Como dizem por aqui: tudo hoje é "na pressão". , pois é, por isso apoio totalmente o queSimone de Beauvoir dizia: “Que nada nos defina. Que nada nos sujeite. Que a liberdade seja a nossa própria substância.” Ser livre pra sermos o que quisermos ser.

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  2. Perfeito. A igualdade entre homens e mulheres é inalcançável. Ser diferente não é ser inferior nem superior, é ter direito de ser em essência e liberdade.

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