quarta-feira, 20 de maio de 2015

Insegurança e Terror na terra do oba-oba

Sempre fui desenrolada. Pegava ônibus a hora que fosse, ia pras festas encontrar azmiga e adorava fazer passeios antropológicos por feiras livres e mercados públicos. Nunca tive medo de cruzar, nas ruas, com os "trombadinhas" que lotam as calçadas do Recife. Para mim, eles já compunham a "paisagem natural" da cidade, deixando latente a imensa disparidade econômica entre as diversas classes sociais. Nunca tive medo - até que fui mãe.

A insegurança da Veneza Pernambucana foi um dos motivos que me fez largar tudo para ficar em casa, reclusa, imbuída apenas no ofício de ser mãe. Tinha medo de deixar a cria com uma babá e, de repente, tê-lo extirpado de mim; temia pela falta de zelo de alguém que, internamente, não amava o meu filho, apenas o dinheiro que lhe rendia. Enfim, tinha medo de tudo, inclusive da vida.

Minhas experiências, por certo, não me foram gratas. Das três babas que encontrei para Heitor, duas foram um completo desastre. A primeira chegou ao ponto de vir trabalhar bêbada e eu quase perdi as estribeiras. A segunda teve a capacidade de fingir de lhe dava alimento para parecer uma encantadora de um bebê pouco afeito a comida. A terceira, por fim, foi um bálsamo de alegria e tranquilidade. Foi graças a ela que eu consegui cortar o cordão umbilical e voltar a pensar em trabalho.

Este ano, já na faixa dos 3 de idade, colocamos Heitor, pela primeira vez, na escola. A escolhida foi uma bem pertinho da nossa casa, o que me permite levá-lo e buscá-lo a pé. Um tranquilizante, tendo em vista o transito crucificador de Recife e a falta de confiança num transporte escolar de qualidade.

Lendo o texto de Janine, acerca de segurança e pontualidade, peguei-me pensando sobre como é bom poder fazer isso - eu mesma ir levá-lo e buscá-lo -, e, por outro lado, como é frustrante sentir tanto medo. Morando no Espinheiro, bairro (tomadas as devidas proporções) privilegiado, eu deveria sentir-me mais protegida, mas não é isso que acontece. Dia desses, por exemplo, ao ir pegá-lo quando do fim da aula, cruzei com um grupo de trombadões que, ainda por cima, cheiravam cola. Apressei o passo e fiquei pensando como seria quando tivesse que passar por ali, na volta, com meu filho andando com seus passinhos curtos. Medo e revolta crescentes

Certo dia também atrasei-me. Perdi a hora e saí cerca de 10 minutos atrasada de casa. Quando, enfim, cheguei para buscá-lo, ele estava desconsolado no canto da sala, com um olhar distante e triste. Ao me ver seu rosto se iluminou. E com sua pouca idade ele lançou-me a frase que seria, para mim, como um soco no estômago - mamãe, eu pensei que você havia me esquecido. Semana passada, um amiguinho de Heitor foi esquecido pela condução. Estranhando a demora para ir buscá-lo, a escola entrou em contato com os pais e explicou o ocorrido. Imagino a aflição da mãe ao ouvir seu filhinho aos prantos, acreditando que tinha sido deixado ali, de propósito.

Aqui perto eu e meu irmão já fomos assaltados. Era noite e esquecemos as janelas do carro abertas quando, de repente, fomos abordados por dois ladrões. Ainda bem que ficamos serenos e eles quiseram apenas o celular. Mas esse pequeno episódio nos deu a devida dimensão de que, de fato, em se tratando de Brasil, não estamos seguros em lugar algum. Essa sensação de terror somente aumenta quando a gente pára e assiste aos telejornais - os locais e os nacionais. Posso jurar que, caso fosse possível, se apertássemos o TV um bocadinho, sairia dali alguns milhares de litros de sangue.

E essa sensação de insegurança e de medo constante é que me revolta. Por que não podemos, também no Brasil, ter a certeza de andarmos nas ruas sem sermos reféns do terror? Por que precisamos aceitar sermos prisioneiros de nossas próprias casas? Por que não podemos utilizar o espaço público sem medo de assaltos, sequestros, balas perdidas, violência gratuita e toda sorte de violação dos nossos direitos enquanto cidadãos e seres humanos?!

3 comentários:

  1. Sei essa sensação...fui diversar vezes assalta ai..E uma das ocisas que nos fez mudar foi isso...Disse pra Brayner...Arruma emprego fora ou vamos pra uma comunidade isolada de tudo aqui no país, mas ficar nos centros urbanos, dentro desse sistema capitalista selvagem que mata a cada dia pessoas do bem, nao fico mais. É muito triste isso...E a maioria não consegue enxergar....Torço pra que vocês consigam uma soluação real como a minha e possam caminhar tranquilos...A qualquer hora...Que vivam em vez de sobreviver. Ficarei na torcida. Porque infelizmente, a realidade é que no Brasil nunca vamos nos sentir seguros. :(. E em relação a isso da pontualidade com nossas crianças...É tão importante, né? São pequenos e frageis demais...Precisam de amor, carinho, cuidado e prontidão. Que bom que o Heitor tem uma mãe como vc. Que as mães do mundo sejam mais como nós:)! Beijo Maria.

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  2. Com relação a isso, não tenho muito do que me queixar. Aqui em Salgueiro é muito tranquilo, graças a Deus.

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