quinta-feira, 7 de maio de 2015

Amor de mais; Amo demais.

Eu costumo dizer que em soma de 2 + 2 não tem jeito de dar outro resultado, a não ser o próprio quatro. Isso é óbvio. Acontece (e isso a gente só descobre lá pelos 30, idade em que me encontro agora), que relacionamentos não são resultados oriundos de fórmulas perfeitas. Na verdade, eu desconfio que relacionamentos verdadeiros são o que resta quando todo o resto é massacrado pela sacrificante rotina do dia a dia e pelas tormentas da existência.

Essa minha crença de enxergar padrões em tudo já me fez passar por maus bocados. Eu acreditava, como menina, em príncipes encantados e finais felizes, como nos contos de fada. Pudera. Fui a filha única de um casal que sonhava - e ainda sonha -, com um mundo feliz e perfeito. Sua vontade paternal era a de me proteger de tudo - inclusive da vida. E, assim cresci sonhadora e destemida, protegida pelos heróis fictícios da minha infância. Amadureci acreditando que a felicidade era um comercial de margarida.

Mas a vida - ahhhh a vida -, a vida se impõe e desabrocha num sei lá o quê estonteante e desbaratador que nos joga no meio de uma tempestade que parece não ter fim. E, assim, eu fui jogada no mar da vida, tendo que lutar contra os monstros para os quais nunca havia sido apresentada. Conheci gente cruel. Gente que fazia sua felicidade roubando a alegria de viver dos outros; gente mesquinha, que se sentia dono dos outros e que, por isso, tinha o direito de desenhar futuros que nunca estiveram nos planos da sua vítima. Eu passei por muitos desses - até compreender que a vida é uma equação complicada e não uma conta de somar.

Quando me apoderei dessa compreensão, pude entender também qual era o tipo de relacionamento certo para mim. E pude encontrar a paz que eu sempre busquei. Nesse momento de profundas descobertas e revelações, eu entendi que príncipes encantados são chatos demais e que ser princesa é um saco. Príncipes e princesas não erram, são perfeitos; projeções imbecilizadas de uma perfeição que nós, seres humanos, nunca seremos capazes de alcançar. E eis aqui a nossa verdadeira beleza; o delta da nossa equação.

Essa capacidade infinita de formular futuros paralelos e, de repente, modificá-los por completo novamente, é a grande sacada de Deus para os seres humanos. Nossa grandeza, nossa beleza e toda essa inteireza de ser residem justamente no fato de sermos complicados, complexos e voluntariosos. Ao mesmo tempo que somos iguais, somos, também, completamente diferentes. Em nossas vicissitudes, nos travestimos dos sonhos brandamente guardados em nossas mentes e corações.

Por isso que, sendo tão complexos, relacionamentos não poderiam ser como contas de padaria. Eles são, sim, um emaranhado perigoso e louco das coisas mais deliciosas do mundo. Residem na construção de um lar e de uma família; moram na poupança acumulada para as viagens de fim de ano; dançam na lavagem de louças compartilhadas e na arrumação da casa - dia após dia. Fortalecem-se no toque sorrateiro do corpo durante a noite - mesmo após tantas noites juntos - e no sôfrego desejo de estar no outro, de ser o outro, mesmo já tendo-o desnudado tantas e tantas vezes. E perduram simplesmente pela resistência da vontade de duas partes serem uma.

Após os 30, eu redefini meu conceito de relacionamento. A experiência me fez compreender que a vida não é uma via em linha reta, mas um caminho sinuoso de curvas deliciosas e divertidas, as quais guardam descobertas e mistérios a cada novo dia. E aprendi que um único relacionamento pode ser muitos; pode ser mil relacionamentos em um só. E que o doce e o fel são necessários para deixar ainda mais gostoso o amor.

2 comentários:

  1. O amor nu e cru. Pra se refletir...acho que ainda depois de tantos anos e tropeços ainda penso e ten to viver como em.filmes e contos...mas talvez esteja na hora de olhar de uma.outra maneira. Gostei muito do texto. Muito o que pensar....beijoa

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  2. Talvez a gente, ainda, descubra que a realidade é bem mais excitante que a fantasia e que dores e sabores se completam.

    Parafraseando Mariana Lira: Mas o amor - ahhhh o amor...

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