segunda-feira, 27 de abril de 2015

Apertando o play dentro de mim



Antigamente, por volta dos meus vinte anos, mudar era coisa fácil. A gente ia na farmácia, comprava a tinta mais louca pro cabelo e, em casa mesmo, virava outra pessoa. Mudar era coisa simples. Nossos problemas, e dilemas, eram também menos complexos. A medida que a gente vai vivendo, as angustias se agigantam, como se nos impuséssemos a responsabilidade de sermos tudo o que o mundo espera de nós. E isso, de fato, é chato pra caralho (desculpem os temos).

É chato porquê é impossível atingirmos a perfeição imposta. Nós, seres mortais, não conseguimos acordar lindas, com os cabelos ondulados e perfeitamente arrumados, tez de bundinha de bebê e sorrisão nos lábios; não conseguimos manter a casa arrumada e os filhos exemplarmente comportados; e não conseguimos executar com maestria a enorme lista de coisas a fazer em apenas 12 horas (pois, é claro, a gente espera ter 4 horinhas pra viver e mais 8 para dormir tranquilas. É sonho. Mas a gente espera).

Na verdade, é a mesma cantilena todos os dias: a gente acorda estressada, às 5 da matina, por quê o pirralho precisa ir à escola; o marido tem que levar a marmita, o trabalho já já começa e as contas acumulam-se, malditas. E nessas 12 horas que a gente corre que nem doida tentando dar conta da vida, não sobra tempo nem pra fazer a unha que anda roída e tenebrosa (é a ansiedade, gente, me perdoem). O fato é que essa perfeição cobrada pelo mundo não pertence a nós, seres mortais. É ai que fica difícil engolir a vida e encará-la com uma perspectiva mais positiva.

Daí o sujeito olha pra você e lança aquele chavão de boleia de caminhoneiro: não apresse o rio, ele só corre para o mar; guarde o dedo que a unha cresce; dê tempo ao tempo; tenha CALMA. Ô palavrinha odiosa, essa. Quando eu escuto, tenho a sensação de ter pequenos enfartes minuto a minuto. Um sujeito ansioso por viver a vida não quer ter simplesmente calma. Ele tem que correr pra conseguir conquistar tudo em tempo recorde, a fim de ter algum tempo pra desfrutar de tanto sucesso.

Entretanto, quando os anos passam e as experiências se acumulam, a gente começa a compreender a sutilidade intrínseca a estes doces aconselhamentos. A gente aprende que é possível ter calma e correr – mesmo que isto seja um paradoxo tamanho; que a perfeição está nos olhos de quem enxerga; e que a vida acontece agora mesmo, neste exato momento, enquanto você corre, tem calma e espera. E é preciso aprender o malabarismo da vida para equilibrar-se nessa pirâmide de desejos, anseios e frustrações. É assim com todo mundo – até com a Gisele, acredite.


Então, se a gente puder, só por hoje; apenas pelos próximos 10 minutos; pelo menos nos próximos 60 segundos nos alimentarmos com palavras amorosas e gentis, talvez, daqui há um tempo a gente introjete essa ideia louca de que é possível ser feliz. A felicidade, creio eu, acontece quando você harmoniza suas crenças com suas projeções. Apreende o conceito do auto perdão. Quando aceita que o passado ficou no passado e não pode mais lhe atingir. A gente pode ser feliz agora, nesse exato momento; e podemos, ainda, multiplicar esse instantezinho em milhares de outros tantos. Talvez aí, de repente, de assalto, sofregamente, a gente descubra que, lá dentro, se fez brotar um jardim.  

Um comentário:

  1. É possível ser feliz. Vc disse tudo: tem que acreditar. Vamos tentando. Beijos

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