Antigamente, por
volta dos meus vinte anos, mudar era coisa fácil. A gente ia na
farmácia, comprava a tinta mais louca pro cabelo e, em casa mesmo,
virava outra pessoa. Mudar era coisa simples. Nossos problemas, e
dilemas, eram também menos complexos. A medida que a gente vai
vivendo, as angustias se agigantam, como se nos impuséssemos a
responsabilidade de sermos tudo o que o mundo espera de nós. E isso,
de fato, é chato pra caralho (desculpem os temos).
É chato porquê é
impossível atingirmos a perfeição imposta. Nós, seres mortais,
não conseguimos acordar lindas, com os cabelos ondulados e
perfeitamente arrumados, tez de bundinha de bebê e sorrisão nos
lábios; não conseguimos manter a casa arrumada e os filhos
exemplarmente comportados; e não conseguimos executar com maestria a
enorme lista de coisas a fazer em apenas 12 horas (pois, é claro, a
gente espera ter 4 horinhas pra viver e mais 8 para dormir
tranquilas. É sonho. Mas a gente espera).
Na verdade, é a
mesma cantilena todos os dias: a gente acorda estressada, às 5 da
matina, por quê o pirralho precisa ir à escola; o marido tem que
levar a marmita, o trabalho já já começa e as contas acumulam-se,
malditas. E nessas 12 horas que a gente corre que nem doida tentando
dar conta da vida, não sobra tempo nem pra fazer a unha que anda
roída e tenebrosa (é a ansiedade, gente, me perdoem). O fato é que
essa perfeição cobrada pelo mundo não pertence a nós, seres
mortais. É ai que fica difícil engolir a vida e encará-la com uma
perspectiva mais positiva.
Daí o sujeito olha
pra você e lança aquele chavão de boleia de caminhoneiro: não
apresse o rio, ele só corre para o mar; guarde o dedo que a unha
cresce; dê tempo ao tempo; tenha CALMA. Ô palavrinha odiosa,
essa. Quando eu escuto, tenho a sensação de ter pequenos enfartes
minuto a minuto. Um sujeito ansioso por viver a vida não quer ter simplesmente calma. Ele tem que correr pra conseguir conquistar tudo em tempo
recorde, a fim de ter algum tempo pra desfrutar de tanto sucesso.
Entretanto, quando
os anos passam e as experiências se acumulam, a gente começa a
compreender a sutilidade intrínseca a estes doces aconselhamentos. A
gente aprende que é possível ter calma e correr – mesmo que isto
seja um paradoxo tamanho; que a perfeição está nos olhos de quem
enxerga; e que a vida acontece agora mesmo, neste exato momento,
enquanto você corre, tem calma e espera. E é preciso aprender o
malabarismo da vida para equilibrar-se nessa pirâmide de desejos,
anseios e frustrações. É assim com todo mundo – até com a
Gisele, acredite.
Então, se a gente
puder, só por hoje; apenas pelos próximos 10 minutos; pelo menos
nos próximos 60 segundos nos alimentarmos com palavras amorosas e
gentis, talvez, daqui há um tempo a gente introjete essa ideia louca
de que é possível ser feliz. A felicidade, creio eu, acontece
quando você harmoniza suas crenças com suas projeções. Apreende o
conceito do auto perdão. Quando aceita que o passado ficou no
passado e não pode mais lhe atingir. A gente pode ser feliz agora,
nesse exato momento; e podemos, ainda, multiplicar esse instantezinho
em milhares de outros tantos. Talvez aí, de repente, de assalto,
sofregamente, a gente descubra que, lá dentro, se fez brotar um
jardim.
É possível ser feliz. Vc disse tudo: tem que acreditar. Vamos tentando. Beijos
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