O moço das frutas cortadinhas
ainda na estava na esquina. Os flanelinhas dançavam frenéticos, tentando
organizar o trânsito caótico do primeiro dia útil do novo ano. Mas já era dia
2. Já haviam se passado dois dias de um 2019 adiado, nada ansiado. O sol continuava
a brilhar, um calor dos infernos já às 8h da manhã. Mas nada naquela manhã me
arrombava a retina. Não havia a beleza costumeira daquelas cenas matutinas e
tão banais.
Na cabeça, os pensamentos
cutucavam-me, malévolos, quase me levando à loucura. Recomeçava em mim a
rotineira faxina nas prateleiras das minhas prioridades. Mais uma vez me vi
arquivando sonhos, guardando expectativas e promessas feitas ao meu filho no
andar mais alto da minha estante de planos. (Re)começar de novo, mais uma vez.
Só pra variar. Acontece – tome nota, Deus. Essa é pra você -, que eu gostaria
de continuar sonhando, pelo menos por um período maior de tempo.
No whatsapp, as mensagens
pululavam tresloucadas, tentando fazer piada com a grande piada na qual nos
tornamos. Eu respondia a todas com gargalhadas e carinhas divertidas que
somente existiram no digitar dos meus dedos. No rosto, apenas a expressão
cansada de quem não agüenta mais. Ouço frases motivacionais que tentam me levar
a acreditar que a vida é mesmo esse sobe e desce; esse escalar constante de
montanhas quase intransponíveis. Eu devo estar escalando o Everest.
Não sou uma pessoa fácil, quem me
conhece sabe. E, com a idade, tenho me tornado mais difícil ainda. Tem sido
difícil engolir certos comportamentos, determinadas pessoas e essa vida que não
se reinventa. Hoje eu só não quero mais ser capacho do tempo, da vida e nem de
ninguém. 2018 foi ano de porradas. Levei muito soco no estômago, tapa na cara,
murro no olho. Resultado: sorriso esburacado, corpo sofrido e alma calejada.
Espero que em 2019 eu possa bater um monte também.
Enquanto aqui dentro tudo é
turbilhão e escuridão, lá fora o mundo parece continuar (quase) do mesmo jeito.
E eu temo que tenhamos apertado o botão para rebobinar a fita e regredir anos e
anos na história. Minhas costas doem. Se é a idade ou o peso da vida, tanto
faz. Eu apenas estou certa de que não agüento mais.
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