sábado, 23 de setembro de 2017

O futuro repete o passado

São 14:40h da tarde de um sábado qualquer. Ao longe, enquanto assisto a um filme sem importância, ouço meu pai transitando descompromissadamente por vídeos diversos no Facebook ou YouTube. De repente ele para e se detém numa imagem antiga. Elis canta "Como nossos pais". Ela relata a frustração de uma geração que foi às ruas lutar por democracia e liberdade e que, na canção, lamenta o presente negro de um país sem memória. Seria cômico se não fosse trágico. Mesmo tendo cantado a canção tantas vezes no passado, ela nunca fez tanto sentido quanto agora. Sinto a dor do meu pai, seu desespero silencioso frente às perdas gigantescas que temos tido nos últimos tempo. Estremeço. Teremos muitas mais ainda, principalmente porque o povo ou Vancansou de lutar ou nunca se propôs verdadeiramente a enfrentar o monstro que se esconde na noite escura da ignorância. Ouço o silêncio do meu pai - ele é ensurdecedor. Ele me atinge como mil adagas afiadas, repleto de perguntas que não podem mais ser respondidas. A frustração dele é o meu desespero. O que será de nós? O que será desse país que cambaleia, bêbado, na corda bamba de uma política fajuta e malsã? O que será de nós? Perdido em seus pensamentos, meu pai me fita distraído, quase que como se dissesse "Marvin, agora é com você". Agora é comigo, com você, com essa juventude que se esconde na falácia de um país ordeiro, alegre e justo. "O seu futuro eu sei de cor", ele finaliza entristecido. "Eu fiz o meu melhor"

Mariana Lira

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